Mesmo com a chuva fina que caia na manhã deste domingo, 28 de setembro, mais de duzentas pessoas, dentre elas transplantados, pacientes que estão na fila para transplantes, familiares, profissionais da saúde, voluntários e gestores da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) participaram da Caminhada pela Vida, organizada pela Central Estadual de Transplantes (Coset), saindo do Cristo até o Farol da Barra, num percurso de 2,7 quilômetros, que teve como objetivo conscientizar as pessoas para a importância da doação de órgãos e tecidos. O evento faz parte da Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos, uma iniciativa da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), Ministério da Saúde e secretarias estaduais de Saúde.
“Nesta caminhada vemos uma grande mobilização para a conscientização da sociedade para a doação, pois através dos transplantes podemos salvar muitas vidas. Já temos toda uma estrutura na Secretaria de Estado de Saúde. Saímos, em 2006, de apenas seis doadores de órgãos, para este ano, ainda sem fechar, onde temos 84 doações e mais de 600 transplantes”, pontuou o secretário.
A disseminação de informações sobre o tema se apresenta como fator crucial para o esclarecimento da sociedade, pois reflete diretamente no número de doações. De acordo com dados da Central Estadual de Transplantes, de 2011 até setembro de 2014 foram realizados 1.847 transplantes e 876 doações, especialmente de fígado, córneas e rins. Número consideravelmente maior que o período de 2007 a 2010, onde foram realizados 1.245 transplantes e 797 doações. Mesmo assim, o Sistema Nacional de Transplantes (SNC) registra, na Bahia, 1.023 pessoas à espera de uma córnea, 999 de um rim, 53 de um fígado e 25 por medula óssea.
Segundo o coordenador estadual de transplantes da Sesab, Eraldo Moura, a sensibilização da sociedade para a discussão sobre o tema transplante é essencial para o crescimento do número de doações na Bahia. “A mobilização que vemos aqui hoje busca elevar a quantidade de doações e, consequentemente, a melhora da qualidade de vida dessas pessoas que aguardam na fila”, explicou Moura.
A diretora de Atenção Especializada da Sesab, Alcina Romero lembrou que o principal objetivo da caminhada é conscientizar as pessoas de que é necessário avisar aos familiares sobre a intenção de doar, pois a doação só é feita com o consentimento da família do doador e a Bahia registra o índice de 70% de recusa familiar.
De acordo com a oftamologista Milla Sampaio, coordenadora do Banco de Olhos da Bahia, as ações de sensibilização da população são necessárias e eficientes. “Precisamos de ações assim para, por exemplo, esclarecer que a doação de córneas pode ser feita seis horas após o óbito, após a parada cardíaca, para obter a autorização familiar. Não temos quantidade suficiente de doações porque muitas pessoas desconhecem essa possibilidade”, ressaltou a oftamologista.
Referência
Único hospital público do Estado que realiza transplante renal (adulto e pediátrico), o Hospital Ana Nery (HAN), localizado no bairro Caixa D’Água, chega à marca de 60 procedimentos por ano. O hospital realiza também serviços de hemodiálise e diálise peritoneal, com atuação de uma equipe formada por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e técnicos de enfermagem.
Recentemente, o HAN foi credenciado pelo Ministério da Saúde para a realização de transplante cardíaco, agora os pacientes não vão precisar sair do estado para fazer a intervenção. A unidade já está em fase de estruturação e treinamento dos profissionais, além de aguardar a autorização para realizar transplante de pulmão.
Transplantado há um mês e 20 dias, Lourival Conhago, 47 anos, acompanhava a caminhada a passos lentos, mas nem a máscara hospitalar que ele usava conseguia esconder a sua alegria. “Passei oito anos na fila e fazendo hemodiálise. Busquei a cirurgia até em São Paulo, mas no dia 8 de agosto eu recebi o meu novo rim aqui mesmo na Bahia, no Hospital Ana Nery. Agradeço muito, pois fui bem recepcionado por uma equipe compromissada com a vida”, ressaltou Conhago.
Doação, um ato de amor
Em janeiro de 2012, o casal José Luiz Mendonça e Vera Lúcia Chaves passou por uma tragédia familiar com a perda do filho Líbio Chaves, com apenas 22 anos. O estudante de engenharia estava em Guarajuba com um grupo de amigos, quando foi assassinado após uma discussão. A reação inicial dos pais foi atender ao desejo do jovem de doação dos órgãos. “Chamo as famílias para que não esperem que um ente querido necessite de uma doação, para se engajar nessa luta, pois doar órgãos é doar vida”, disse José Mendonça. “Seis pessoas renasceram por meio dos órgãos do meu filho. Não pode haver satisfação maior para uma mãe que passa por um momento tão difícil. Sabemos que ele nasceu para ajudar essas pessoas e cumpriu sua missão”, emocionou-se a mãe Vera Lúcia.
Para o presidente da Associação Renal da Bahia, José Vasconcelos Freitas, 64 anos, a doação e o transplante foram episódios que mudaram sua vida. Transplantado de rim há sete meses, ele atua incansavelmente pela causa dos que estão na fila, à espera de um órgão. “Todos merecem ter a esperança de viver uma nova vida. Por isso buscamos sensibilizar as famílias para este ato de amor ao próximo”, conclui Vasconcelos.
A.S. DRT 3509-Ba /caminhada/transplantes